3/01/2010

Ausência, reflexão do poema de Borges

Foto: Claudine Luz


Ausencia

.

Habré de levantar la vasta vida

que aún ahora es tu espejo:

cada mañana habré de reconstruirla.

Desde que te alejaste,

cuántos lugares se han tornado vanos

y sin sentido, iguales

a luces en el día.

Tardes que fueron nicho de tu imagen,

músicas en que siempre me aguardabas,

palabras de aquel tiempo,

yo tendré que quebrarlas con mis manos.

¿En qué hondonada esconderé mi alma

para que no vea tu ausencia

que como un sol terrible, sin ocaso,

brilla definitiva y despiadada?

Tu ausencia me rodea

como la cuerda a la garganta,

el mar al que se hunde.


Confesso que a poesia “Ausência” de Jorge Luis Borges é uma das minhas preferidas porque já reli várias vezes e mostrei a umas pessoas que fazem lembrar-me dela devido suas estórias de vida ou talvez seja pelo fato de identificar-me com ela em alguns trechos simbólicos e tão verdadeiros que repelem a essência de uma perda tão preciosa, como no trecho a seguir:” O que vai esconder a minha alma vazia para não ver a sua ausência não vejo isso como um sol terrível, sem o acaso, que brilha definitiva e impiedosa?” ou como outras pessoas certamente já se identificaram com esta ausência tão singular. Fora o brilhante trocadilho de palavras de duplo sentido que por um momento arrebate-se contigo mesmo e fica repudiando constantemente na sua mente e corpo.

Borges sempre disse que nunca criou personagens e sim algo autobiográfico sem expressar suas emoções diretamente através de fábulas e simbolismos. Em minha visão ver esta poesia reflete uma sentimentalidade compulsiva e árdua que leva ao desespero, principalmente nos trechos: “Vou levantar ainda a vasta vida que agora é o seu espelho: vou ter que reconstruí-lo todas as manhãs.” e “Sua ausência me rodeia como a corda na garganta, o mar que afunda.” E suspeito que esta poesia refere-se ao amor, o caso mais quente do escritor com Estela Canto. E referindo-se ao monstro chamado “amor”, é algo novo porque não conheço, ou medo de sentir, e talvez ele tivesse medo deste monstro e se expressasse incógnito em suas poesias.

E a escrita de Borges é requintada por usar o regionalismo tradicional, mas, fora da sua época e uma grande metamorfose conceitual com a filosofia, metafísica, mitologia, teologia criando uma realidade totalmente avançada da sociedade de sua época.

E finalizando o tema proposto na poesia “Ausência” reflete a questão da perda de algo ou alguém abrangendo várias formas performáticas desde uma perda fraternal, porque não pode ser? Ou amoroso, de pessoas que estão sempre presentes, ou pessoas passageiras e recentes, mas que sejam completamente diferentes uma da outra. Neste caso Borges deu o livre arbítrio para os seus leitores usarem a imaginação com seus jogos.

E finalmente voltei a postar algo interessante. Estava precisando e como!

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente escrita...